é tão bom ... tão bom nadar

nadar, até o meu corpo se fundir na água e ver o mundo marinho fazendo parte dele ... ver os peixes tão perto e sossegados no fundo da areia branca ...
Está-me a acontecer o mesmo que com a meditação ... quando o processo entra num ciclo interno em que não consigo simplesmente movimentar-me .... ou até mesmo em certos momentos no blog ... quando tudo se solta de uma forma maravilhosa e ao mesmo tempo me identifico dentro de mim na extensão do pensamento que flui ...
nadar passou a ser um processo que neste momento me provoca acima de tudo o "grande" choque entre vidas no exterior da água e no interior. Eu próprio me transformo e me sinto mais azul ... mais húmido ... mais ser vivente nas águas ... como se tivesse guelras e os meus pulmões vão respirando naturalmente expulsando o ar no interior da água do oceano e depois respirando todo o exterior de forma natural.
Neste lapso amo o exterior, a imagem da serra, a água, da areia ... mas muito rápidamente passo para o outro mundo, a água na sua profundidade de meio marinho.

Faz-me lembrar Claude Debussy e os seus sons de mar que tanto gosto ... de água a correr...a correr em piano.
Neste momento dou em média seiscentas a oitocentas braçadas seguidas e não me apetece parar... só os músculos me param. Até o bater de pés durante as braçadas se interligam e todo o corpo se funde no movimento.
As águas estão um pouco frias ... mas só quando me doem os ossos é que tenho de parar, o que poucas vezes tem acontecido.
Quando saio ... saio contrariado ... a respirar ainda a mistura da água e do ar ... saio tonto, com os músculos tensos ... e ponho-me ao sol na minha cadeira ... aquecendo lentamente o corpo.
Mudança, transfiguração ... esta de vestir a roupa que especialmente escolho para o trabalho diário ...
Estou a aprender a viver na água ... sem a pretensão do esforço musculado.
Tentei é verdade desta vez estar ainda mais no íntimo do mundo líquido. Mais do que isto só o primeiro mergulho ... e o furar e o preencher dos espaços no meu corpo.

Adorei o que escrevi ontem, quando coloquei as fotos de Sri Aurobindo. Será que alguêm entende o que escrevo !
Hoje também estou triste com os homens ... Não há maior provação do que lidar com as nossas insuficiências, quando os outros nos causam a desinteligência. Também nestes momentos deveriamos ser grandes ... para sabermos aceitar o pequeno nos outros porque também existe noutras alturas em nós.

SM, palavra fractal