esgotamento antecipado
Por vezes mergulho num esgotamento antecipado por várias coisas que para tal indiciam que é isso mesmo que têm de acontecer.
Há uns meses possuía uma salinha perfeita onde toda a gente se sentia bem. As visitas ficavam admiradas pelo contexto construído ... alguns diziam-me de fantástico, outros intimidados calavam-s e olhavam. Naturalmente que não era nada do outro mundo mas sim uma tentativa excêntrica de chegar perto da perfeição na decoração e na minha modelização do mundo. Desde mesinhas japonesas, passando pelo data-show e as imagens, livros e mais livros, pinturas, arte, coisas e mais coisas ousadas assim era eu naquele quarto .... muitas vezes me deitei no meio das minhas imensas almofadas de cada cor adormecendo durante um bom par de horas, outras tantas fui lendo livros e escrevendo e pensando de forma coerente o profundo. Outras tantas vezes ainda, ouvi música quase sempre, outras tantas meditei e no meu santuário orei e fui mais uma vez meditei sobre as perguntas que mais me dizem da condição humana. Na salinha pintei a carvão e noutros materiais, chorei de alegria e de tristeza, ri e dei gargalhadas e fiquei aquele famoso mês parado, imobilizado naquela mesma sala no meio das almofadas ... sem pensar
até que um dia a meio da noite tive que desconstruir toda a minha perfeição. Foram pedras e mais pedras pintadas, areias e quadros, cortinados e bambus, mesas e conchas e todo o meu imenso mundo espalhado pelo chão. Me recordo de ter semeado toda a areia das praias da ilha de Moçambique, de colocar flores secas e areias pintadas do Brasil .... e nesse dia imperfeito de juízo espalhei tudo ... tudo mesmo, ficando a olhar as imagens e cores, tapetes e cartas .... e desfiz duma só vez toda perfeição. Fiz como quem desmancha uma mandala que após meses de trabalho e perfeição na simbologia do Nepal, desfaz as areias para que o ciclo se renove.
Adormeci no chão exausto por ter desfeito a perfeição que não queria porque estava terminada. Não entendo as colecções das nossas vida de uma forma quase que eterna se eternizam limitando-nos. É que nós somos acima de tudo muito ... muito perenes nesta vida. Inclusive rasguei e desfiz as imagens mais fantásticas do universo pacientemente coleccionado por mim em centenas de imagens da NASA e rasguei igualmente os velhos mapas portugueses da colecção digital e coisas e do meu amado Alentejo e coloquei toda a genealogia da minha família antiga num saco, sem eito nem pejo ... dizendo mais tarde ... um dia houvera e que me sentia igualmente tão grande como os idos.
Adormeci meio nu nesse dia no meio das areias .... a apesar da revolta dos outros que comigo estão .... as coisas foram transportadas de manhãzinha para o exterior da casa ainda dormiam. Quando se acordou em casa , a salinha perfeita tinha desaparecido totalmente e aí senti os olhos sentidos.
Como se pode falar em maldade em quem precisa de recrear e mudar o rumo, precisa de se antecipar ... porque naquele momento percebe algo que tem de fazer ...
O que é certo é que após me terem dito há pouco tempo que não se deve estar três anos e meio praticamente sem férias ... começo a pouco e pouco a reconstruir a minha salinha o já sei o que quero neste momento. Curioso como temos que abrir mão das nossas mentes habituadas e adormecidas pelas colecções de pensamentos e práticas e objectos, para de vez em quando deixarmos este nosso lado de "loucura" comandar e então percebermos se isso acontecer, uns meses mais tarde o certo e o errado na nossa cabeça. Nessa altura por vezesvenmos então como tudo se ajusta de uma forma muito especial no universo ... á nossa volta.
Comunicação com o universo ... peçam e esperem e continuem a trabalhar no que querem.
Realmente descobrir é algo de muito interno ... uma humanidade nossa perto dos deuses.
