Consciência
conhecimento não é aquilo que aprendemos ... mas sim no que nos tornamos

POPULATION AND METROPOLIZATION

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Gaia e SDi

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Caminhos Nordestinos de Judeus e Marranos

Como já uma vez afirmei quando um familiar meu soube por mim de ligações de ramos muito longínquos da família à inquisição, casamentos entre fámilias e consaguinidades, todo ele se revolveu na sua face ... parece que o senti suar profundamente no maior desprezo como se estivesse a cuspir no chão. Disse-me que o povo Português sofreu intimamente esta influência da delação e da inveja e ainda hoje a possui esbatida qual sebastianismo ... salvara-nos ao menos Camões e "reinou" ironicamente Gil Vicente.
Irascível, este meu tio soltou meio palavrão em conversa menos agradável ... e meteu-se para dentro. Respeitei-o nesse momento, conhecendo-os como os conheço- sem comentários na discussão de certos assuntos em família. Uma vez soltou-me que era o sobrinho preferido ... nunca mais o esqueci ... o "excêntrico" da liberdade como me chamava, em abono das minhas idades mais jovens.
Por isso leio há anos os Caminhos Nordestinos de Judeus e Marranos no Jornal Terra Quente e vivencio a vidas, os sofrimentos, as famílias, o poder e o dinheiro, o amor e o ódio de toda uma época registada nos processos de Inquisição de Coimbra, Lisboa e Évora principalmente.


Daí que apesar das desculpas da hierarquia católica e do Papa não se aceita tanto martirio e maldade dos homens. É indesculpável ... históricamente ... mas é a nossa história.



Reza assim uma das histórias ....


"Caíram sobre ele às estocadas mesmo à porta de sua casa, sita ao fundo da rua dos Sapateiros, na vila de Torre de Moncorvo. Eram três contra um e, embora valente e destemido, nada mais pôde fazer do que aparar com a espada as primeiras estocadas e rapidamente meter-se em casa cuja porta a mulher lhe abrira e ainda mais depressa fechou, atrás dele. Da mão esquerda escorria sangue, que lhe abriram um lenho bem fundo e no chão da rua ficou o dedo mindinho, que lho cortaram com uma espadeira. Antes de prosseguirmos, convirá que apresentemos os contendores: De um lado, Manuel Rodrigues Isidro, 24 anos, cristão-novo, comerciante e rendeiro, certamente o homem mais endinheirado da terra, um exportador e importador que anualmente pagava mais de 100 mil reis de impostos alfandegários e contava com a protecção de D. Francisca de Aragão, uma das damas de mas consideradas e influentes na Corte de Madrid. Contra ele, Francisco da Rosa Pinto, juiz dos orfãos, um cargo muito importante e dos mais rendosos da vila; Álvaro Falcão, escrivão do público, e Diogo Monteiro, homem nobre, meirinho do eclesiástico, a autoridade fiscalizadora do cumprimento das leis da igreja e dos deveres públicos dos cristãos, na área do vicariato de Torre de Moncorvo, que abrangia vários concelhos em redor. Metidos em casa, Os isidro trataram logo de trancar portas e janelas que os inimigos eram homens de muito poder e prepotentes, capazes até de arrombar paredes. Além do mais, não convinha afrontá-los directamente. Em sua casas se fecharam também, de repente, a maioria dos moradores da rua dos Sapateiros , que quase todos eram "gente da nação" e aquilo podia ser o início de alguma "guerra" entre as comunidades cristã-nova e cristã velha. A notícia correu logo pela vila e, da casa de Jerónimo de Castro, sita ao fundo da rua dos Sapateiros, por baixo da porta de S. Bartolomeu, saiu pouco depois um magote de gente, pessoas impantes de nobreza e aristocracia, da primeira do concelho, "todos armados de espadas, redelas e cascos e ouras de antas e chuços e foram juntar-se àqueles três intrépidos "vingadores" e a outros mais que entretanto haviam chegado, em "assuada" à casa de Manuel Isidro, tentando "abalroar" as portas, metendo as espadas pela vigia, gritando nomes de "cabrão, perro e judeu" e desafiando para que saísse, que haviam de matá-lo. Da turba enfurecida e apara além dos três já apresentados, descam-se os seguintes:
Ambrósio da Rocha Pinto, pai do juiz dos orfãos.
Pascoal Camelo, padre, familiar do Santo Ofício.
António Camelo, sobrinho daquele, homem nobre e que então empunhava a vara de meirinho, o magistrado judicial mais importante da terra e a quem competia manter a ordem pública e executar as prisões.
Jerónimo de Castro, escrivão da câmara municipal, de certo emprego cobiçado da administração em qualquer concelho.
Tomé de Castro, seu filho, chanceler da correição, espécie de secretário provincial a quem pertencia a escrituração das leis e despachos do corregedor e acompanhar a sua execução nos mais de 20 concelhos que integravam a comerac.
........" texto de António Andrade e Maria Fernanda Guimarães


Evil, segundo Mati de 1972
impressionante
SM, palavra fractal